MENU
Buscar

1ª semana da COP30 é marcada por diálogos e projetos de ações climáticas

Confira o resumo da PIM Amazônia

Foto: Arte/PIM Amazônia

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou Conferência das Partes (COP30), começou na última segunda-feira (10/11), em Belém, no Pará, com um raro consenso entre as delegações: a agenda oficial foi adotada logo no primeiro dia, reforçando a união política e a urgência para transformar o Acordo de Paris em ações concretas.

Um dos momentos mais marcantes da abertura foi o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que cobrou ambição climática e criticou diretamente o desequilíbrio entre gastos militares e investimentos ambientais.

1ª semana da COP30 é marcada por diálogos e projetos de ações climáticas.
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

“Se os homens que fazem guerra tivessem aqui nessa COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para a gente acabar com o problema climático do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra, como fizeram no ano passado”, afirmou Lula, em fala que repercutiu entre delegações e organizações internacionais.

O dia também foi marcado por iniciativas tecnológicas para adaptação. Foram lançados o Green Digital Action Hub, que ampliará o acesso global a ferramentas digitais sustentáveis, e o AI Climate Institute, que vai capacitar países em desenvolvimento a usar inteligência artificial em políticas climáticas.

Na Mostra de Inovação Agrícola, a Fundação Gates anunciou US$ 1,45 bilhão para inovação agrícola em países vulneráveis, enquanto o Global Methane Hub confirmou US$ 30 milhões para reduzir emissões de metano na produção de arroz.

No campo financeiro, o Fundo de Resposta a Perdas e Danos foi colocado em operação recorde e abriu seu primeiro edital de US$ 250 milhões. Bancos multilaterais anunciaram US$ 26 bilhões para adaptação em 2024 e lançaram uma nova estrutura para atrair capital privado à proteção da natureza.

Também teve destaque o lançamento de uma parceria global para fortalecer proteção social e agricultura familiar em países afetados pela pobreza e pela insegurança alimentar.

Outras ações reforçaram a inovação climática, como a infraestrutura digital pública para adaptação, iniciativas inspiradas na natureza e novas ferramentas de agricultura inteligente baseadas em IA. A Mostra de Inovação Agrícola totalizou US$ 2,8 bilhões em compromissos para apoiar pequenos produtores e sistemas alimentares resilientes.

A abertura oficial da Zona Verde mobilizou juventudes, sociedade civil e organizações globais, reforçando a proposta de fazer da COP30 uma conferência marcada por implementação, inclusão e inovação.

2º dia da Conferência – 11/11

Realizado nesta terça-feira (11/11), o segundo dia da COP destacou o papel estratégico de cidades e governos locais na adaptação climática. Iniciativas para enfrentar o calor extremo, melhorar a gestão da água e reduzir emissões de resíduos foram anunciadas com novos financiamentos e planos de ação.

cop30
Foto: Portal COP30

A campanha Beat the Heat, parceria da Presidência da COP30 com o Pnuma, avançou para a fase de execução, com ações para proteger 3,5 bilhões de pessoas do calor extremo em 185 cidades. Paralelamente, a Reunião Ministerial sobre Urbanização e Mudanças Climáticas lançou o Plano para Acelerar a Governança Multinível, que pretende integrar estruturas de cooperação entre governos locais e nacionais em 100 NDCs até 2028.

Na Reunião Ministerial “Águas da Mudança”, países aprovaram uma declaração conjunta que coloca a água como pilar global da adaptação, enquanto o Brasil apresentou planos voltados à governança participativa e ao acesso à água para comunidades vulneráveis.

Na área de infraestrutura e resíduos, foi lançado o Plano No Organic Waste (NOW), que prevê reduzir 30% das emissões de metano até 2030, recuperar 20 milhões de toneladas de alimentos por ano e integrar 1 milhão de trabalhadores do setor de resíduos na economia circular. A iniciativa já envolve 25 cidades em 18 países.

A agenda também contou com o lançamento dos novos Espaços Temáticos da COP30, do Anuário da Ação Climática Global e de iniciativas voltadas à economia circular e inclusão digital, incluindo mutirões de reciclagem de resíduos eletrônicos e capacitação de jovens.

Encerrando o dia, ministros e prefeitos de 80 países reforçaram que a implementação das metas climáticas depende da ação local. A plenária do Mutirão Global destacou que o futuro do Acordo de Paris está sendo construído “de baixo para cima”, com soluções que começam nas comunidades.

3º dia da Conferência – 12/11

O grande destaque foi o lançamento da Iniciativa Global sobre Empregos e Habilidades para a Nova Economia, que projeta a criação de mais de 650 milhões de empregos na próxima década com a expansão das ações climáticas e de adaptação. O Brasil está entre os oito países que já aderiram ao plano.

dia 3 cop
Foto: Portal COP30

O evento Adaptação Indígena reconheceu o conhecimento ancestral como ferramenta essencial para políticas climáticas. Novos compromissos foram firmados para financiar diretamente projetos liderados por povos indígenas, em que o Conselho Indígena de Roraima apresentou cinco planos de adaptação que podem servir de modelo global.

Pela primeira vez, a COP incluiu de forma central o tema integridade da informação, com seis novos países aderindo à iniciativa internacional contra a desinformação climática. Foram lançados um plano de financiamento, uma declaração global e a seleção dos primeiros dez projetos a serem apoiados até 2028.

No campo das políticas públicas, a ONU apresentou um plano para usar compras públicas sustentáveis ,movimentando trilhões de dólares como motor para descarbonizar setores como aço, cimento e concreto, alinhando transição justa, emprego e indústria.

O dia também destacou o papel da cultura e do diálogo intergeracional com eventos dedicados à narrativa e ao patrimônio cultural reforçaram o poder da arte e dos saberes tradicionais na mobilização social, com participação de lideranças indígenas, artistas e autoridades.

Em espaço dedicado a povos indígenas, debates sobre justiça climática e transparência nas NDCs ressaltaram a importância das comunidades tradicionais para metas como o desmatamento zero.

Encerrando o dia, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, afirmou que o clima das negociações é “muito positivo” e sinaliza um esforço coletivo para demonstrar que o multilateralismo funciona.

4º dia da Conferência – 13/11

O quarto dia da COP30, realizado nesta quinta-feira (13/11), colocou a proteção da vida e o bem-estar humano no centro da agenda climática. O principal avanço do dia foi a adoção do Plano de Ação de Belém para a Saúde (BHAP), elaborado pelo Brasil em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

dia 4 cop
Foto: Portal COP30

O documento cria um roteiro global para que países construam sistemas de saúde resilientes às mudanças climáticas, com foco em equidade, vigilância integrada, inovação e cooperação internacional. Para apoiar sua implementação, fundações internacionais anunciaram US$ 300 milhões em financiamento.

A educação também ganhou protagonismo. Na Reunião Ministerial organizada pelo Brasil e pela UNESCO, ministros defenderam que alfabetização climática deve ser parte central dos currículos escolares. A sessão marcou o lançamento da minuta do framework PISA sobre clima, que definirá habilidades essenciais para estudantes atuarem na transição sustentável.

No “Dia da Justiça, Clima e Direitos Humanos”, o presidente do STF, ministro Edson Fachin, defendeu maior integração entre sistemas judiciais para garantir direitos da natureza e enfrentar a emergência ambiental. A ministra Marina Silva reforçou que ética e justiça são pilares inseparáveis da resposta climática, afirmando que punir infratores ambientais “é um ato de amor à humanidade”.

O financiamento para adaptação apareceu como eixo transversal com o lançamento da iniciativa Fostering Investible National Planning and Implementation (FINI), que pretende mobilizar US$ 1 trilhão até 2028 para transformar planos de adaptação em projetos financiáveis. Organizações multilaterais também apresentaram novos aportes para sistemas de alerta antecipado, observação climática e resiliência em países vulneráveis.

Na esfera social, o dia trouxe ainda o lançamento da Árvore de Compromissos Sumaúma, que traça um plano até a COP31 para ações climáticas baseadas em direitos humanos, e debates sobre integridade da informação, reforçando a responsabilidade compartilhada entre governo e sociedade civil no combate à desinformação climática.

O quarto dia de evento consolidou a COP30 como uma conferência voltada à implementação com um espaço onde saúde, educação, justiça e financiamento convergem para construir resiliência climática centrada nas pessoas.

5º dia da Conferência – 14/11

TFFF: Fundo Florestas Tropicais para Sempre

Lançado neste ano, O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é uma iniciativa global voltada para financiar, em larga escala, a conservação das florestas tropicais, incluindo Amazônia, Congo e Sudeste Asiático. Criado para atuar como um mecanismo permanente de recursos, o fundo busca garantir previsibilidade financeira a países que preservam grandes áreas de floresta.

Na COP30, o TFFF ganhou protagonismo por ser apresentado como o maior esforço de financiamento florestal já estruturado. O fundo é visto como peça-chave para destravar investimentos privados, acelerar políticas de conservação e garantir que nações tropicais tenham recursos contínuos para manter suas áreas preservadas. Governos avaliam que o TFFF pode multiplicar os orçamentos ambientais atuais e mudar o padrão global de financiamento climático.

Até o momento, os compromissos de aporte são:

  •  Brasil: US$ 1 bilhão
  • Indonésia: US$ 1 bilhão
  • Noruega: US$ 3 bilhões
  • França: até US$ 577 milhões
  • Alemanha: compromisso financeiro em discussão
  • Portugal: US$ 1 milhão
1ª semana da COP30 é marcada por diálogos e projetos de ações climáticas.
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A meta é captar US$ 25 bilhões durante a COP30 com contribuições de países investidores. No momento, já foram arrecadados US$ 5,5 bilhões. A estratégia é usar esses recursos como alavanca para atrair investimentos privados e chegar a US$ 125 bilhões aplicados na preservação das florestas tropicais.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o objetivo é mobilizar cerca de US$ 4 bilhões por ano, distribuídos entre países com grandes áreas florestais.
Esse volume representa de três a quatro vezes o orçamento anual de ministérios ambientais de países tropicais, o que pode gerar um impacto estrutural nas políticas de conservação.

Protestos indígenas marcam a semana da COP30 em Belém

A COP30 teve a semana marcada por uma forte presença indígena e por protestos que chamaram atenção para pautas territoriais e socioambientais. As manifestações destacaram a pressão de povos originários por participação direta nas decisões climáticas.

Na terça-feira (11/11), durante o Terceiro dia da conferência, um protesto envolvendo indígenas terminou em confronto com seguranças da ONU após o grupo tentar entrar na Blue Zone, área restrita das negociações. Dois seguranças ficaram levemente feridos, o acesso chegou a ser bloqueado e a Polícia Federal foi acionada. As discussões da COP foram retomadas após a situação ser controlada.

No entanto, nesta sexta-feira (14/11), no quinto dia do evento, cerca de 90 indígenas Munduruku realizaram um protesto pacífico na área externa de acesso à Zona Azul. O grupo cobrou uma reunião de emergência com o presidente Lula e criticou o tratamento das florestas nas negociações climáticas, que, segundo eles, são vistas como ativos de crédito de carbono. Também pediram a retirada de invasores das terras indígenas e o fim do Marco Temporal.

Com cartazes que diziam “Nossa floresta não está à venda”, os Munduruku denunciaram exclusão histórica dos debates ambientais. Soldados do Exército bloquearam o avanço para a área interna, o que atrasou a entrada de participantes, mas um acesso alternativo foi aberto. Um cordão humano formado por participantes da conferência cercou os indígenas para proteger o grupo.

54923411666 564cbb0645 z
Foto: Portal COP30

Horas depois, os indígenas se reuniram com André Corrêa do Lago, Sônia Guajajara e Marina Silva. O grupo pediu a revogação do Decreto nº 12.600/2025, que privatiza hidrovias no Rio Tapajós, e voltou a criticar a Ferrogrão, por considerar que a ferrovia e o corredor Tapajós–Arco Norte ampliam a pressão do agronegócio sobre seus territórios. Também rejeitam negociações climáticas que tratam florestas como ativos de carbono.

O governo afirmou que a manifestação é legítima. Sônia Guajajara informou que a demarcação de Sawré Muybu avança na Funai e que Sawre Ba’pim aguarda portaria do Ministério da Justiça. Marina Silva disse que não há licenciamento ativo da Ferrogrão no Ibama e que levará a demanda sobre hidrovias ao Ministério dos Transportes. O governo ressaltou a presença de 360 lideranças indígenas credenciadas na COP30.

Representantes do grupo reforçaram que o grupo quer uma reunião com Lula e que as decisões sobre o território devem ser coletivas.

Por Gabrielle Oliveira, estagiária de jornalismo, sob a supervisão de Kamilly Pequeno

Leia também

COP30: Brasil lança plano nacional para aumentar arborização urbana
COP30: Manifestantes confrontam segurança para entrar em área restrita

Com informações do Portal COP30

Tags: